Governo distribui panfletos contra o oxi

William Cardoso – O Estado de S.Paulo

A Secretaria de Estado da Saúde vai distribuir hoje, entre 9h e 15h, na Estação Brás da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), na região central de São Paulo, mil panfletos alertando a população sobre as consequências do uso do oxi, droga considerada mais devastadora que o crack, que pode ser encontrada por até R$ 2. O folheto ainda terá explicações sobre a diferença entre o crack e o oxi.

Levantamento divulgado pela secretaria apontou que 12% dos 92 pacientes atendidos pelo Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod) já usaram oxi. Segundo a pesquisa, 65% do total nunca ouviram falar da droga, o que pode indicar que já a usaram sem saber. Entre os entrevistados, 22% disseram que o oxi é pior que o crack.

Reunião do Conselho Estadual sobre Drogas (Coned-SP) realizada ontem tratou também da disseminação do oxi no Estado. Segundo participantes, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) cobrou uma ação integrada dos órgãos públicos.

Para especialistas, é preciso bem mais que distribuição de folhetos para combater o oxi. “Pode ter muita boa vontade, mas, diante da tempestade em que estamos, vai ser difícil ter uma ação eficaz e alcançar o objetivo esperado. Não vai atingir a massa, que deveria saber mais sobre o assunto”, diz Sandra Crivello, especialista no tratamento de usuários de drogas.

Em sua opinião, a secretaria poderia usar em relação ao oxi as mesmas formas de esclarecimento adotadas em campanhas sobre a aids e a dengue, com divulgação intensa nos meios de comunicação. “Deveria fazer uma “imunização”, vacinar as pessoas com informação para evitar um dano maior posteriormente.”

Resposta. Questionada se a distribuição de panfletos não seria pouco eficaz, a secretaria disse que se trata de uma primeira ação pontual, importante para alertar a população. Segundo a pasta, profissionais já estão sendo capacitados. Sobre o porquê de a distribuição não ocorrer na região da cracolândia, que concentra grande número de usuários, a secretaria afirmou que o Cratod já faz ações no local. A escolha do Brás se deu em razão de uma feira de saúde na estação da CPTM, que também conta com grande circulação de pessoas todos os dias.

Amy Winehouse se interna novamente em clínica de reabilitação

Porta-voz da cantora confirmou internação na manhã desta sexta (27).
Jornal diz que artista comprou vodca antes de ser internada.

Amy Winehouse voltou a se internar em uma clínica de reabilitação nesta sexta-feira (27). A notícia foi confirmada pelo o seu porta-voz ao jornal britânico “The Sun”. A artista será tratada no centro The Priory, no Reino Unido.
Segundo a publicação, antes da internação a artista teria comprado vodca em uma loja de bebidas de Londres. “Ela estava fora de si, quase caindo e trocando as palavras”, afirmou uma testemunha, que se disse chocada ao ver a artista comprar a bebida alcoólica no começo da manhã.

Amy Winehouse durante show no Rio, em janeiro deste ano. (Foto: Alexandre Durão / G1)
Amy também teria parado em um restaurante para se trocar e, na saída, afirmou que teria vomitado no banheiro. O porta-voz explicou que a frase foi uma brincadeira da artista.
Após um longo período sem se apresentar, justamente por conta de seu passado com drogas e álcool, Amy voltou em janeiro deste ano aos palcos para uma série de shows pelo Brasil. Apesar da aparência frágil e de esquecer as letras de suas próprias músicas em alguns momentos, ela bebia apenas água e uma (possível) xícara de chá nas apresentações. Os shows dividiram opiniões devido aos seus momentos de apatia e euforia.
Em fevereiro ela foi vaiada ao cantar em Dubai, por passar parte do show cutucando as unhas e mexendo no cabelo. Na ocasião, ela cantou apenas seis músicas e abandonou o palco.

Dependente químico é pago para fazer vasectomia

John, 38 anos, usuário de drogas desde os 12

Um dependente químico da cidade de Leicester, na Inglaterra, é a primeira pessoa na Grã-Bretanha a aceitar dinheiro para se submeter a uma vasectomia.

O pagamento é iniciativa de uma entidade beneficente americana que faz campanha para que viciados em drogas sejam esterilizados.

O programa, batizado de Project Prevention (Projeto Prevenção) está oferecendo o equivalente a cerca de RS$ 513 para qualquer usuário ou usuária de drogas em Londres, Glasgow, Bristol, Leicester e partes do País de Gales que aceite fazer a operação.

O homem, identificado pelo nome fictício de John, disse à BBC que “não deveria jamais ser pai”.

Aos 38 anos de idade, ele admite ser dependente de drogas desde os 12.

“Isto é algo que eu vinha pensando há muito tempo”, disse. “Não vou poder sustentar uma criança, mal consigo sustentar a mim mesmo”.

John aceitou participar do programa de esterilização e agora tem 30 dias para pensar sobre o assunto. Se ele não mudar de idéia, será o primeiro britânico a participar do projeto, que já esterilizou 3.500 americanos.

‘Suborno’

A notícia foi recebida com críticas por entidades beneficentes britânicas que trabalham com dependentes químicos.

A fundadora do Project Prevention, a americana Barbara Harris, admitiu que seu método é uma forma de suborno.

“O dinheiro motiva as pessoas. É uma forma de suborno, sim”, ela disse à BBC.

Ela argumenta, no entanto, que esta é a única forma de impedir que bebês sofram danos físicos e mentais como consequência do uso de drogas por seus pais.

A entidade britânica Addaction, que oferece tratamentos a dependentes químicos na Grã-Bretanha, calcula que um milhão de crianças no país vivam hoje com pais que usam drogas.

Mulheres grávidas que usam drogas podem passar a dependência química para o bebê ainda no útero, o que pode provocar danos ao cérebro e outros órgãos da criança.

Harris disse ter decidido criar sua ONG após adotar filhos de uma usuária de crack na Carolina do Norte.

“A mãe natural dos meus filhos obviamente usava todo tipo de drogas e álcool. Ela literalmente teve um bebê por ano durante oito anos”.

“Fico muito zangada por causa dos danos que as drogas provocam nessas crianças”.

Depois de pagar milhares de dependentes químicos nos Estados Unidos para que não tenham filhos, ela está agora visitando partes da Grã-Bretanha com maior incidência de uso de drogas para tentar convencer usuários a se submeterem a um programa de “controle de natalidade a longo prazo” em troca de dinheiro.

O presidente da Addaction, Simon Antrobus, disse que se por um lado ninguém deseja ver crianças sendo criadas em ambientes onde há consumo de drogas, não existe, na opinião dele, lugar para o Project Prevention na Grã-Bretanha.

(O projeto) “explora pessoas muito vulneráveis que são dependentes de drogas e álcool, provavelmente no pior momento de suas vidas”.

Contraceptivo Reversível

A coordenadora de projetos Maria Cripps, que trabalha com usuários no Hackney Dovetail Centre, disse:

“Eu acho que Barbara usa alguns exemplos extremos como argumento. Talvez isso funcione nos Estados Unidos, mas a Grã-Bretanha é um país muito diferente”.

O reverendo Martin Blakebrough, diretor do Kaleidoscope Project, no bairro de Camden, no norte de Londres, disse que é “válido considerar” a esterilização se isso for a opção certa para o indivíduo.

Outro reverendo, Robert Black, que trabalha com ex-viciados, considera os objetivos do projeto “desonestos”.

Rebatendo as críticas, Barbara Harris diz que as 20 últimas mulheres que foram esterilizadas pelo Project Prevention tiveram um total de 121 gravidezes.

“Se você acredita que essas mulheres têm o direito de ter filhos, então dê um passo à frente e adote o primeiro bebê a nascer”.

Comentando o assunto, um porta-voz da British Medical Association (BMA), a associação dos médicos britânicos, disse:”O comitê de ética da BMA não tem uma posição sobre a entidade beneficente Project Prevention”.

“Assm como em todos os pedidos para tratamento, os médicos precisam estar confiantes de que o indivíduo tem a capacidade de tomas as decisões específicas naquele momento”.

“O comitê de ética do BMA também acredita que médicos deveriam informar pacientes dos benefícios da contracepção reversível para que os pacientes tenham mais opções de reprodução no futuro”.

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Saiba quais são os riscos das pílulas da felicidade

Especialistas explicam os efeitos que o uso indiscriminado de tranquilizantes pode trazer à saúde. Saiba também em quanto tempo o paciente pode se tornar dependente químico.

Para dentista que atende usuários, falta prevenção

Jovens que fumam o oxi têm sintomas comoferidas profundas na boca, vômitos e diarreia

O oxi já está em São Paulo. Embora não haja confirmação oficial por parte da polícia ou de órgãos da Saúde, que dizem não ter registrado ocorrência envolvendo a droga na capital paulista, o oxi já começou a ser consumido por jovens de 15 a 28 anos. A dentista Sandra Crivella, que trabalha na saúde pública atendendo pacientes com necessidades especiais na Zona Sul de São Paulo, já constatou a presença da droga. — Comecei a perceber sinais diferentes daqueles de jovens que usam crack. Tanto o oxi como o crack provocam queimaduras na boca. As feridas provocadas pelo cachimbo usado no crack são mais espalhadas.  As feridas provocadas pelo oxi são profundas, pontuais. Os que usam oxi ainda esfregam a pedra da droga na ferida para aumentaro efeito — conta. Segundo a dentista, os usuários do oxi são muito mais agressivos que os do crack: — Não dá nem para comparar. É muito pesado. Eu nem sei como encarar. A médica, que atende jovens pobres da Zona Sul da cidade, relata: — Eles chegam com o reflexo característico desse tipo de droga, vômito e diarreia. Chegam muito mal. Não querem falar do que viveram sob efeito da droga. Ou já esqueceram. Vão dos 15,16 anos até os 25, 28 anos. Agente percebe que alguns são articulados, sabem falar, o que significa que estudaram. Não são só meninos de rua. Depois que identificou 19 casos de uso da nova droga em duas semanas de dezembro do ano passado, a dentista prefere agora não quantificar o que tem visto para não cometer equívocos, já que trabalha numa região bem específica da cidade.— Será que são 30, são 40? Não posso afirmar porque pode ser uma amostra viciosa. Estou numa região de população mais pobre, embora os casos que vejo não sejam só de pobres. Experiente em casos odontológicos que exigem atendimento especial, Sandra Crivella critica autoridades policiais e da saúde por não terem políticas de prevenção. Ela lembra que, desde que surgiu o crack, a atitude das autoridades foi a mesma, de não reconhecer o problema:— A situação está aí. Não vejo atitude preventiva e corretiva. A divisão de Prevenção e Educação (Dipe), do Departamento Estadual de InvestigaçõesSobre Narcóticos (Denarc), da Polícia Civil de São Paulo, diz que nunca houve apreensão de oxi em São Paulo. De acordo com a Secretariade Segurança, a droga pode estar sendo vendida como se fosse crack, já que é nova e os usuários não a conhecem. O Conselho dos Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo, de acordo com o seu presidente, Arthur Chioro, que comanda a pasta da Saúde em São Bernardo do Campo, na região do ABC, tem conhecimento de que o oxi — uma droga “devastadora”, segundo ele— já chegou aos paulistas.— O Conselho dos Secretários de Saúde definiu como agenda prioritária o atendimento aos dependentes químicos. Estamos discutindo a criação de ações interdisciplinares para cuidar desses dependentes, inclusive dos usuários de crack e agora do oxi — afirma.

Em poucas semanas, oxi leva ao emagrecimento e à perda de dentes

Efeito da nova droga no corpo é devastador: crises renais, diarreia e vômitos.

As marcas deixadas pelo oxi nos corpos dos usuários são visíveis. Assim como as reações no comportamento— os dependentes permanecem sempre nervosos e agitados durante e após o consumo da droga , os efeitos em órgãos vitais como rim, pulmão e fígado são considerados devastadores. Os usuários de oxi, logo nos primeiros dias de consumo, apresentam problemas no aparelho digestivo e complicações renais. As dores de cabeça e as náuseas passam a ser constantes, diárias, e há crises crônicas de vômito e diarreia, um quadro comum enfrentado por quem faz uso da droga.

Os usuários também apresentam dificuldade para respirar, e a pele passa a ter uma cor amarelada. Em poucas semanas, o dependente perde muito peso e tem início um rápido processo de envelhecimento. A morte por complicações de saúde pode chegar em prazos inferiores a dois anos. As reações do oxi nos usuários são semelhantes às do crack. No entanto, em função de o efeito da droga passar mais rapidamente, a vontade de consumir novamente é imediata. O efeito do oxi é muito rápido, a droga chega ao cérebro em poucos segundos. Seu efeito também passa mais rápido, por isso a necessidade de consumir cada vez mais e mais. É uma reação avassaladora. Diferentemente do crack, o usuário ainda sente a necessidade forte de mesclar o oxi com outras drogas, principalmente a própria cocaína em pó e o álcool, explica a psicóloga Maria Stella Cordovil Casotti, que trabalha há 14 anos com a recuperação de usuários de drogas e atua hoje no estado do Acre. Concentração de cocaína é maior no oxi e chega a 80%. Perito criminal da Polícia Federal em Rio Branco, Ronaldo Carneiro da Silva Júnior explica que a característica do oxi de viciar mais rápido que o cracke as demais drogas está em sua composição. Enquanto a cocaína em pó, que é inalada, possui cerca de 10% de substância cocaína, o crack possui 40%.  Já o oxi supera ambas as drogas. A substância cocaína chega a80%, apesar de a pureza da droga ser baixa, decorrente da mistura de derivados de petróleo, cal, permanganato de potássio e solução líquida usada em bateria de carro. O perito chama a atenção para as reações que identificam o usuário de oxi. O dependente da droga deixa de dormir durante vários dias, consumindo o produto durante dia e noite seguidamente. Sob o efeito da droga,o usuário passa a apresentar tremores e agitação constantes.Outra característica são os olhos com pupilas dilatadas. Os efeitos do oxi também estão na boca dos dependentes. Como a mistura de gasolina, querosene e produtos corrosivos é grande na composição da droga, os dentes sofrem desgaste, ganham uma tonalidade escura e quebram. O processo culmina na perda dos dentes. Prazer evolui para depressão entre usuários, Para o médico Zelik Trajber,da Fundação Nacional de Saúde(Funasa) no estado de Mato Grosso do Sul, quanto maior o número de substâncias tóxicas usadas na preparação da droga,maiores serão os estragos no corpo do usuário. É o caso do oxi, que usa derivados de petróleo e cal. As drogas só vão piorando, e seus efeitos e malefícios, aumentando— diz ele. Trajber faz um paralelo entre o oxi e o crack e chama a atenção para os efeitos no comportamento. De acordo com o médico, usuários dessas drogas apresentam reações violentas.— A princípio, o dependente de drogas sente uma sensação de satisfação, que depois evolui para a depressão. O usuário tende a sair fora da realidade, a viver em um outro mundo — explica Trajber.

Os efeitos do oxi

A fumaça da droga chega aos pulmões e cai na corrente sanguínea.

No cérebro, cria prazer de curto prazo, enquanto o corpo é corroído

 

Oxi, uma droga ainda pior

O oxi – uma pedra tóxica feita com cal, gasolina e pasta de cocaína – se espalha pelo país e assusta as autoridades mais que o crack

HUMBERTO MAIA JUNIOR, COM RODRIGO TURRER

 

Pedro tinha 8 anos quando começou a fumar maconha. Aos 14, experimentou cocaína. Com 19, foi apresentado ao crack. “Eu fumava cinco pedras e bebia até 12 copos de pinga.” Em janeiro deste ano, seu fornecedor de drogas, em Brasília, passou a oferecer pedras diferentes, com cheiro de querosene e consistência mais mole. Pedro estranhou. “Dizia a ele que a pedra estava batizada, que não era boa. O cara me dizia que era o que tinha e ainda me daria umas(pedras) a mais.” Não demorou para Pedro notar a diferença no efeito. A nova pedra era mais viciante. Para não sofrer com crises de abstinência, dobrou o consumo para até dez pedras por dia. Descobriu então que, em vez de crack, estava fumando uma droga chamada oxi. “Quando soube, vi que estava botando um veneno ainda maior no meu corpo. Fiquei com medo de morrer.” Aos 27 anos, depois de quase duas décadas de dependência química, Pedro sentiu que tinha ido longe demais. Internou-se numa clínica.

A história de Pedro (nome fictício) ilustra o terror provocado pelo oxi, droga que está se espalhando rapidamente pelo Brasil. O oxi está sendo tratado pelos médicos como algo mais letal que o crack, considerado até agora a mais devastadora das drogas. Mas é consumido por pessoas que não sabem disso, porque é vendido em bocas de fumo como se fosse crack. “O oxi invadiu os postos de venda tradicionais. Isso preocupa”, diz o delegado Reinaldo Correa, titular da Divisão de Prevenção e Educação do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), da Polícia Civil de São Paulo.

A primeira apreensão confirmada do oxi em São Paulo ocorreu quase por acaso. Em março, a polícia apreendeu 60 quilos de algo que foi classificado como crack. O equívoco foi corrigido quando esse carregamento foi usado numa demonstração para novos policiais. “Queimamos algumas pedras e, pelos resíduos, concluímos que era oxi”, afirma Correa. Quase diariamente, a polícia de algum Estado do Brasil anuncia ter apreendido a droga pela primeira vez (leia o mapa abaixo) . Em alguns casos, como em Minas Gerais, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul, as primeiras apreensões foram feitas na semana passada. Não é que o oxi surgiu em tantos lugares em tão pouco tempo. Ele já havia se espalhado sem ser notado.

Como o crack, o oxi é vendido em pedras que, quando queimadas, liberam uma fumaça. Inalada, em poucos segundos vai para o cérebro, provocando euforia e bem-estar. “Visualmente, são quase idênticas”, diz Correa. A diferenciação pode ser feita pela fumaça, que no caso do crack é mais branca, ou pelos resíduos: o crack deixa cinzas, enquanto o oxi libera uma substância oleosa. Por causa da dificuldade em distinguir uma droga da outra, é impossível ter exata noção da penetração do oxi entre os usuários. “Sabemos apenas que ele está aqui há algum tempo”, afirma Correa.

Recente nos Estados mais ao sul do país, o oxi é velho conhecido dos viciados da Região Norte. Acredita-se que a droga entrou no Brasil ainda na década de 1980, a partir de Brasileia e Epitaciolândia, cidades do Acre que fazem fronteira com a Bolívia. O consumo da substância foi registrado por pesquisadores em 2003, quando Álvaro Mendes, vice-presidente da Associação Brasileira de Redução de Danos (Aborda), pesquisava o uso de merla, outro derivado da cocaína, entre os acrianos. “No primeiro momento, o oxi era usado pelas classes sociais mais baixas e por místicos que iam ao Acre atrás da ayahuasca (chá alucinógeno usado em cerimônias do Santo Daime)”, diz Mendes. A droga chegou à capital, Rio Branco, de onde se espalhou para outros Estados da região. “Hoje, é consumida em todas as classes sociais”, diz Mendes.

 

 

A dentista Sandra Crivello se lembra de quando viu o primeiro caso de dependência por oxi em São Paulo. Foi no fim do ano passado, quando recebeu uma ligação de uma Organização Não Governamental (ONG) que faz atendimento a jovens viciados em drogas. Queriam que ela atendesse um rapaz com problemas na boca. Encontrou o paciente na porta da ONG. A imagem do rapaz chocou Sandra, que há mais de 20 anos atende meninos de rua viciados. Loiro, pele branca e aparentando 20 anos, chocava pela magreza e pelo cheiro quase insuportável de vômito e fezes. “Ele estava em condição de torpor, parecia viver em outro mundo.”

– Foi você que veio me ver? Olha, está doendo muito – disse o rapaz, chorando, antes de puxar os lábios com força exagerada. Sandra não se esquece do que viu. “Tinha até osso necrosado.” Perguntou ao rapaz:

– O que você usou? Não vem me dizer que é crack que eu sei que não é.

– Eu bebi.

– Bebida não é. O que você usou?

– Foi oxi.

Sandra, que já tinha ouvido falar do oxi, diz que respirou fundo. “Agora que essa porcaria chegou aqui, não falta mais nada. Só pedi que Deus nos ajudasse.” Como Sandra, vários profissionais que têm contato com o mundo das drogas temem que o oxi tome o lugar do crack. Motivos não faltam, da facilidade de fabricação ao preço baixo. O crack é feito com pasta-base de cocaína, misturada com bicarbonato de sódio e um solvente, que pode ser éter ou amoníaco. É difícil obter grandes quantidades dessas substâncias, porque a venda é controlada pela Polícia Federal. Já o oxi é feito com pasta-base de coca misturada a cal virgem e a gasolina ou a querosene. “O refinamento do crack demanda uma cozinha e um processo laboratorial mais complexo”, diz Ronaldo Laranjeira, coordenador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Para fabricar o oxi, basta misturar a pasta-base com um derivado de petróleo em qualquer panela. Pode ser feito no fundo de um quintal.” O resultado é que os traficantes podem cobrar preço menor. Se uma pedra de crack custa ao viciado entre R$ 7 e R$ 10 na “cracolândia”, região central de São Paulo onde usuários e traficantes circulam livremente dia e noite, a pedra de oxi sai por cerca de R$ 2. Esse valor torna a droga acessível a um público muito maior. “Dependentes buscam o que é mais barato”, diz Luiz Alberto Chaves de Oliveira, chefe da Coordenadoria de Atenção às Drogas da Prefeitura de São Paulo. Também procuram o que tem efeito mais forte e mais rápido. O oxi, ao que parece, atende a essas necessidades. E tem tanto ou mais poder de viciar que o crack. “O oxi parece gerar ainda mais dependência. É potencialmente mais forte que o crack, que já é muito destrutivo”, diz Cláudio Alexandre, psicólogo do Grupo Viva, que atende dependentes de drogas.

O agente penitenciário André (nome fictício), de 34 anos, morador de Rio Branco, no Acre, conhece bem os efeitos do oxi. “Quem usa chama de veneno”, diz. Como todo veneno, é traiçoeiro. André descreve o gosto da fumaça como algo “gostoso”. “Pega mais, dá uma viagem.” Não demora e surgem os efeitos adversos – dor de cabeça, vômitos e diarreias. E paranoia. André diz que ouvia vozes. “Era o demônio falando no meu ouvido.” Os efeitos também são físicos. “Via muitos usuários sujos de vômito e diarreia.” Mesmo assim, André não conseguia abandonar o uso. Vendeu o que tinha para comprar pedras. “Pedia aos boqueiros (quem trabalha nas bocas de fumo) que passassem na minha casa e pegassem tudo.” Geladeira, fogão, DVD, um a um, todos os móveis e eletrodomésticos foram trocados por pedras brancas. “Só não troquei a vida”, diz André, que está internado numa clínica ligada a uma ONG em Rio Branco. Ele afirma que só buscou tratamento porque, desempregado, não tinha mais dinheiro para abastecer o vício.

Na última semana, as polícias de quatro Estados anunciaram as primeiras apreensões de oxi

Paulina Duarte, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), diz que o governo federal está avaliando o impacto do oxi. Junto com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Senad está finalizando uma pesquisa sobre o uso de derivados de cocaína no país. O estudo incompleto sugere que, pela facilidade com que é produzido, o oxi pode subverter a lógica usual do tráfico. “Não há um fornecedor fixo que distribui um só produto”, diz Paulina. “A droga é produzida em casa, de forma primitiva e artesanal.” Uma nova organização do tráfico poderia exigir uma mudança na forma de repressão policial. “Para combater o oxi, não temos de caçar apenas grandes traficantes”, afirma Paulina. “Precisaremos de uma polícia ativa, que atue diretamente nos pontos urbanos.”

Também é preciso que o serviço de saúde tenha exata noção das substâncias que compõem o oxi, a fim de entender seus efeitos e propor tratamento adequado. Por enquanto, faltam estudos laboratoriais que atestem a composição da substância. Na década de 1980, a Alemanha queria montar uma política para diminuir as mortes provocadas por overdose de heroína. Descobriu-se que o que estava matando era uma versão da droga com aditivos. Somente a partir dessa constatação o serviço de saúde organizou a melhor forma de tratamento. O Brasil suspeita, mas não tem certeza, do que é feito o oxi. Saber é o primeiro passo de uma longa batalha contra a nova droga.

 

Oxi pode matar 30% dos usuários em apenas um ano

Uma droga mais devastadora do que o crack invade as ruas das cidades por todo Brasil.

O crack apareceu nos anos 80 nos Estados Unidos. Nós não tomamos nenhuma medida preventiva. Sequer educamos as crianças. O que aconteceu? A primeira cracolândia se estabeleceu em São Paulo e a droga se espalhou pelo Brasil inteiro. As estimativas são de que existam 1,2 milhão de usuários de crack pelo país. É uma epidemia. Agora surge o oxi. Uma preparação mais bruta, mais barata da cocaína e ainda mais destruidora do que o crack. É difícil prever o que vai acontecer? Nós vamos assistir passivamente à disseminação do oxi pelo Brasil inteiro? Nós não vamos fazer nada?

“O oxi é um tipo de crack adulterado. Fundamentalmente todos eles vêm da pasta base de cocaína. É fundamentalmente você colocar nesta pasta base ou querosene, ou gasolina ou cal. E você vai transformar de uma forma muito tosca, com uma tecnologia muito tosca, um subproduto do crack, mais adulterado, que tem as características de ser mais barato, mais poderoso, e mais de fácil acesso para o usuário”, explica Ronaldo Laranjeira, psiquiatra da Unifesp.

O oxi entrou no Brasil há sete anos pelas fronteiras que o Acre faz com a Bolívia e o Peru. Ficou restrito ao norte do país até este ano, quando se espalhou por diversos estados. A primeira apreensão de oxi na cidade de São Paulo foi em março deste ano de 2011. É possível que o oxi já existisse antes?

“Eu acredito firmemente nisso. É muito provável que esse produto já estivesse em circulação pelo menos naquela região da cracolândia há mais tempo”, acredita Wagner Giudice, diretor do Denarc.

Quando você fuma o oxi, o querosene provoca náuseas, vômitos, tosse, sensação de sufocamento, tremores e até convulsões. Os vapores de cal irritam os olhos, provocam perda parcial da visão e cegueira. O oxi queima por onde passa. Boca, garganta, brônquios e pulmões ardem. Você pensa que está fumando cocaína, mas na verdade está se envenenando com querosene e cal.

“Quando ele vai ser queimado fica o resíduo da não queima de parte da querosene. A fumaça que sai é a fumaça que vai ser inalada. Querosene, cal. E nós temos o resíduo que sobra, uma espécie de uma graxa. O cheiro de combustível pela queima do querosene. A sobra é esse líquido oleoso, conhecida como oxi ou oxidado porque ele fica realmente oxidado”, explica um delegado.

“Eu acredito que o oxi pode alcançar muito rapidamente os consumidores de crack. O crack alcançou mais de 90% das cidades brasileiras por ser uma droga conhecida como barata. O oxi é mais barato do que o crack”, acredita Wagner Giudice, diretor do Denarc.

“Fizeram uma pesquisa de um ano com cerca de cem usuários e constataram que, em um ano, 30% desses usuários acabaram morrendo em razão dos efeitos dessa droga lá no Acre. Hoje, o oxi chega em uma zona onde o pessoal já está com graves problemas de saúde. A maioria dos que estão na Cracolândia sofre de AIDS, sofre de tuberculose, e, por incrível que pareça, sarna, em razão da promiscuidade que eles estão vivendo. Então o oxi entrando em um campo desses realmente vai causar mais malefícios”, alerta Reinaldo Corrêa, delegado do Denarc.

Marcos Antônio é um usuário de oxi e crack em tratamento. A dependência o fez roubar objetos da família e morar na Cracolândia.

“Passei três noites lá. Eu vi crianças de 7 anos de idade na fissura, ameaçando pessoas para dar um trago. Por ele ser muito barato, está entrando como uma avalanche no mercado. Lá na Cracolândia você compra trago por R$ 0,50. A gente se sente uma escória, a gente se sente um verme ali”, conta Marcos. “Vi que eu precisava me internar no momento em que vi meus filhos abandonados. Tenho duas filhas adolescentes.”

Uma droga devastadora como o oxi destruirá um número incalculável de usuários e famílias. Dependência química não é caso de polícia. É doença que precisa ser enfrentada com medidas preventivas e assistência médica para tratamento dos dependentes. Estamos diante de uma tragédia anunciada: o oxi. Ainda dá tempo para reagir.